A conferência “Democracia e Cosmopolitismo”, a ser proferida pelo filósofo Francis Wolff, da École Normale Supérieure de Paris é a principal atração da abertura do Congresso comemorativo dos 75 anos da Universidade Federal da Bahia, no dia 06 de dezembro, às 16h30 – após a mesa e o ato de abertura que têm início marcado para as 14h30.
Intelectual francês de grande expressão na contemporaneidade, Francis Wolff nasceu em 1950. Lecionou filosofia antiga na Universidade de São Paulo entre 1980 e 1984 e é autor de artigos e livros dedicados à filosofia antiga, filosofia da linguagem e metafísica contemporânea.
Entre suas principais obras traduzidas para o português podemos encontrar “Sócrates” (Brasiliense, 1982); “Dizer o mundo” (Discurso Editorial, 1999); “Aristóteles e a Política” (Discurso Editorial, 1999); “Nossa humanidade” (Edunesp, 2013), “Três Utopias Contemporâneas” (Edunesp, 2018); “Não existe Amor Perfeito” (Sesc, 2018), livro vencedor do prêmio literário francês Bristol des Lumières em 2016; e o recém-lançado “Pensar com os antigos: uma riqueza de todo o sempre” (Edunesp, 2021). Do autor, pelas Edições Sesc, foram também publicados ensaios em vários livros da coleção Mutações, como “Ensaios sobre o medo”; “A condição humana”; “Vida, vício, virtude”; “Mutações: a experiência do pensamento”; “Mutações: elogio à preguiça”; “Mutações: o futuro não é mais o que era”; “Mutações: o silêncio e a prosa do mundo” e “Mutações: o novo espírito utópico”.
Em sua obra mais recente traduzida para o português “Pensar com os antigos: uma riqueza de todo o sempre”, Francis Wolff argumenta que “se pensarmos com a filosofia antiga, talvez seja possível filosofar hoje em dia. Tomar emprestado dos antigos é pegar deles o que continua sendo deles, portanto é tentar lê-los fielmente, adequando nosso olhar histórico sobre eles, mas é também tentar compreendê-los por completo, integrando seu pensamento ao nosso”.
A seguir, quatro fragmentos de ensaios de Francis Wolff que podem ser idos na integra, juntamente com outros trabalhos no portal Artepensamento, do Instituto Moreira Salles.
A flecha do tempo e o rio do tempo – pensar o futuro (2013)
“Em certo sentido, o futuro não para de mudar. Estamos sempre reinventando o futuro em função da maneira como nos pensamos no presente e imaginamos o mundo de hoje. Portanto, o futuro não é mais o que era. No fundo, o mesmo se dá com o passado, nem o passado é mais o que era. Se nos abstrairmos de seu conteúdo concreto para pensarmos seus conceitos, as três dimensões do tempo (presente, passado e futuro) têm uma definição imutável: o presente é sempre o que é real; o passado é o que não é mais real e que é, no entanto, necessário, pois ninguém pode fazer com que o que foi feito não tenha sido feito; e o futuro é sempre o que ainda não é real e que é apenas possível.O que é o futuro? O que é esse estranho tempo que nunca alcançamos?”
Apologia grega à preguiça (2012)
“Somente se atribuirmos um valor ao trabalho, a preguiça parece um vício. Caso contrário, a tal condenação moral não subsiste: a preguiça torna-se repouso, ócio, disponibilidade, independência, liberdade. Este é o caso no pensamento grego. Os moralistas da Antiguidade clássica condenavam o trabalho porque só o viam como um mal físico, moral, político e metafísico: um mal necessário talvez, mas do qual era preciso tentar escapar. Para eles, o trabalho, por mais útil que pudesse parecer, era a base de toda sujeição. Fazer apologia à preguiça no sentido grego significava fazer a lista dos motivos da desvalorização do trabalho. Podemos encontrar em Platão e Aristóteles muitas críticas ao trabalho. Dentre elas, a de que o trabalho impede que nos dediquemos à filosofia, à política (a serviço da Cidade) e a nós mesmos (ao nosso corpo ou à nossa alma).”
O que significa “pensar”? Aventuras do pensamento entre a antiguidade e a modernidade (2010)
“Se há, por um lado, a atividade cerebral objetiva e mensurável, há, por outro, sua experiência. Embora não se possa vê-la, a relação entre ambas é óbvia. Tanto que não há uma sem a outra. Ou seja: sem conexões elétricas entre bilhões de neurônios, nada de cheiro, som, amor, ódio, prazer, sofrimento, cálculo, discurso, Beethoven ou Carlos Drummond de Andrade. Eis, pois, o enigma: como movimentos físicos transformam-se em estados de consciência? Como a composição química da pera dá-lhe um sabor único?”
Dilema dos intelectuais (2003)
“A chegada da esquerda ao poder na França em 1981 e o abandono de alguns de seus ideais socialmente audaciosos e antiliberais dois anos mais tarde, colocou os intelectuais diante de dois dilemas: inicialmente, se perguntaram se podiam participar do poder ou deveriam ser críticos do governo, seja ele qual for. Posteriormente, face ao governo “de rigor” de Mauroy surge um novo dilema: pode-se, em nome do realismo político, abandonar em parte alguns dos seus ideais ou a fidelidade aos ideais deve ser mantida a custo de perder o poder? Curiosamente, no Brasil, situação parecida ocorreu quando o governo de esquerda do presidente Lula optou por seguir uma via política semelhante àquela adotada pela esquerda francesa, colocando os intelectuais em estado de confusão e dúvida quanto ao papel político do intelectual e o condenando, provisoriamente, ao silêncio.”
Mas sobre Francis Wolff em:
https://www.sescsp.org.br/online/edicoes-sesc/convidar-modal.action?id=606
https://artepensamento.ims.com.br/item/o-silencio-dos-intetectuais-francis-wolff/